Profissionais debatem a qualidade do ensino e as tendências da profissão durante o XI Encontro Nacional de Coordenadores e Professores do Curso de Ciências Contábeis

Publicado em 29/9/2018

Por Thiago Benevides/CRCSP e Thatyane Nardelli/CFC

Os painéis, com participação de grande nomes da contabilidade, ressaltaram a importância da atualização do ensino aplicado em sala de aula e uso da tecnologia para formar profissionais mais bem preparados.

Dando início ao debate, o painel “O Uso da Tecnologia no Processo de Ensino” foi composto pelo professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Edgard Bruno Cornacchione Junior, pelo membro do Grupo Jovens Lideranças Contábeis do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG) Sidney Pires Martins e pela PHD em Educação de Recursos Humanos da Universidade de Illinois, Norma Ines Scagnoli.

A presidente do CRCSP, Marcia Ruiz Alcazar, foi quem conduziu a discussão.

Os painelistas apresentaram suas experiências no ensino da contabilidade com o uso da tecnologia, como material acessado por meio de aplicativos de QR Code, jogos virtuais desenvolvidos especificamente para o ensino nessa área, programação para contadores e ferramentas de e-learning. “É preciso mudar o conceito de ensino, desde a estrutura física das salas de aula até a relação de professores falando e de alunos passivos ouvindo”, declarou Cornacchione.

Sidney fez uma análise sobre os principais desafios a serem enfrentados no futuro pelos docentes. “A humanidade está cada vez mais apta a interagir com a tecnologia, que passa a fazer parte do seu cotidiano", apontou ele. "Os alunos das gerações Y e Z são extremamente antenados. E eles querem que os professores também sejam. Aquela aula lá atrás não pode ser a mesma de hoje. Não tenham medo de utilizar aplicativos para dar aula”, advertiu o especialista.

“É preciso mudar o conceito de ensino, desde a estrutura física das salas de aula até a relação de professores falando e de alunos passivos ouvindo”, declarou Cornacchione.

Norma falou sobre o funcionamento do ensino da Universidade Illinois e destacou o crescimento do e-learning como uma realidade cada vez mais presente no mundo. “A Universidade deve assumir um papel de relacionar as informações para dar ao aluno uma nova forma de pensar ”, salientou a pesquisadora.

Exame de Suficiência

Tema importante para formar profissionais mais capacitados e capazes de cumprir os futuros desafios da profissão contábil, os professores e coordenadores participaram do painel “Exame de Suficiência: Inspirando e Compartilhando as Boas Práticas para uma Melhor Performance”.

A presidente da Abracicon, Maria Clara Bugarim, o professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e presidente da Academia Piauiense de Ciências Contábeis (Apicicon), Elias Dib Caddah Neto, a pró-reitora adjunta da Universidade Federal do Ceará (UFC), Editinete André da Rocha Garcia, e a coordenadora do curso de Ciências Contábeis da UFC, Roberta Carvalho de Alencar, foram os palestrantes.

O conselheiro do CRCSP Alexandre Sanches Garcia fez a mediação do painel.

Lançamento

Durante o painel, o presidente do CFC, Zulmir Ivânio Breda, fez o lançamento do livro “Exame de Suficiência: Um Requisito para a Qualificação Profissional”.

Leia aqui.

Os painelistas Maria Clara, Elias Dib, Editinete André e Roberta Carvalho, autores do livro, apresentaram os principais pontos da publicação. Eles também destacaram a importância de uma reflexão contínua sobre os resultados obtidos em cada edição para promover o aprimoramento do ensino das Ciências Contábeis no País.

"Nós estamos sempre em busca de melhorias, mas os desafios também são constantes”, declarou Maria Clara, que fez um breve histórico do Exame de Suficiência. “O objetivo do Exame não é punir, mas qualificar o profissional”, completou a presidente da Abracicon.

Roberta Carvalho de Alencar apresentou dados de todas as edições do Exame e resultados que os pesquisadores encontraram ao relacionar as informações.

“Hoje, mais de 23% dos profissionais da contabilidade ativos passaram no Exame de Suficiência, o que nos dá uma boa base comparativa", mostrou Roberta. "Alguns dados são preocupantes, como o número insatisfatório de aprovação dos candidatos. Outros nos mostram situações interessantes. Não há, por exemplo, uma distinção grande no desempenho de alunos de universidades públicas e privadas”, completou a pesquisadora.

Elias Caddah falou especialmente sobre o objetivo da publicação, que é de “fomentar e subsidiar pesquisas futuras sobre o tema, contribuindo assim para a melhoria contínua do ensino de Ciências Contábeis e do próprio Exame de Suficiência. A sociedade espera que o profissional que entre no mercado tenha conhecimentos sólidos sobre sua área de atuação”, declarou Caddah.

O contador como agente transformador

O painel “Responsabilidade Social e o Profissional da Contabilidade” foi ministrado pelo coordenador-geral de Gestão de Cadastros da Receita Federal, Clovis Belbute Peres, a gerente nacional do Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal da Receita (NAF), Ana Paula Sacchi Kuhar, e pelo presidente do Observatório Social do Brasil (OSB), Ney da Nóbrega Ribas.

O vice-presidente de Política Institucional do CFC, Joaquim de Alencar Bezerra Filho, foi o moderador da palestra e destacou que a contabilidade é um elemento fundamental do controle social e, consequentemente, para a construção de uma sociedade mais justa.

Ana Paula Sacchi Kuhar explicou o que é o NAF, projeto da Receita Federal do Brasil (RFB) em convênio com universidades para orientar pessoas de baixo poder aquisitivo em questões contábeis e fiscais. Ela contou todo o processo de estruturação da rede, “que graças à tecnologia, como as vídeo-aulas e as plataformas online que disponibilizamos, conseguimos ampliar para todo o Brasil”.

Clóvis Belbute complementou a apresentação de Ana Paula, revelando os caminhos adotados para se estruturar essa rede de solidariedade fiscal. “Nós fomos a muitos países com bons serviços de orientação a contribuintes de baixa renda. Realizamos visitas técnicas nas entidades responsáveis para entender como funciona para, só então, criar a rede NAF no Brasil”, destacou o coordenador da Receita. Sobre os próximos passos da entidade, ele concluiu: “nosso objetivo agora é ampliar essa rede ainda mais e auxiliar cada vez mais pessoas”

Ney da Nóbrega Ribas também focou sua apresentação no voluntariado e controle social. “Em Maringá, onde eu nasci, ocorreu um desvio de R$100 milhões da Prefeitura certa vez, dos quais apenas R$70 milhões voltaram aos cofres do município. Foi aí que entendemos a importância da prevenção e criamos o primeiro Observatório Social do Brasil”, revelou Ney.

“Nós fazemos o monitoramento das contas públicas e trabalhamos em outras frentes, como de orientação à população, contribuindo assim para o aumento da eficiência na gestão pública”, explicou o presidente do OSB, que fez um convite para que todos busquem se engajar em causas voluntárias em benefício da sociedade.

Desafios para o ensino da Contabilidade

O presidente da Apicicon, Elias Dib Caddah Neto, e o professor-doutor Valcemiro Nossa foram os palestrantes do painel seguinte, abordando o tema “Desafios do Ensino Superior no Século XXI”. O vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do CRCSP, José Aparecido Maion, foi o moderador da atividade.

As incertezas que surgem decorrentes das novas tecnologias foi um dos principais desafios apontados pelos participantes do painel. Elias Caddah fez uma comparação com outras profissões e fez um questionamento ao público: “quantos de vocês fariam uma consulta médica por videoconferência?”, ao que constatou que menos de 10% aceitariam o procedimento. “Todas as profissões, inclusive a nossa, terão que se adaptar e utilizar a tecnologia a nosso favor. Isso tornará nosso serviço ainda mais eficiente e dará um alcance ainda maior a ele”, declarou Caddah. Ele destacou também a falta de interação entre disciplinas ministradas nas universidades e as necessidades do mercado, o que na visão do conselheiro só será solucionado se sairmos do modelo tradicional de ensino e pensarmos na aplicabilidade do conhecimento adquirido.

Valcemiro Nossa apontou também outros desafios no ensino superior, “alguns bem antigos, mas que continuam sendo entraves a serem superados”, declarou ele. A adequação de conteúdos à realidade do mercado, a qualificação dos professores e a falta de motivação dos estudantes foram alguns problemas apontados por Valcemiro que persistem nas instituições de ensino.

“Mas se há um desafio à frente, existe também uma grande oportunidade. E é isso que devemos trabalhar”, afirmou Valcemiro, que apresentou propostas para contornar algumas destas questões. “E o mais importante: é preciso entender quem é o aluno, o que ele pensa, e traçar estratégias para engajar ele em sala de aula”, aconselhou Nossa.

Profissional do futuro

A última apresentação do XI ENCPCC tratou sobre “A Revolução Cognitiva – Humanidade e Inovação”, tema ministrado pelo especialista em Inovação e Economia Digital Gil Giardelli. A vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CFC, Lucélia Lecheta, foi a moderadora do painel.

Giardelli trouxe aos presentes um panorama geral sobre o processo de automatização de processos em curso, com a criação de tecnologias capazes de alterar a forma como nos relacionamos com o mundo. Ele apresentou casos em que a tecnologia resolve problemas complexos, seja no meio ambiente, acessibilidade, saúde e outros, trazendo bem-estar para a sociedade.

“Vivemos hoje uma nova era, na qual o físico e o digital se encontram. Mas um não substitui o outro, eles se complementam para a obtenção de resultados mais satisfatórios”, declarou o Gil Giardelli.

O especialista também rechaçou a ideia de que os avanços tecnológicos iriam criar desemprego generalizado. “Para cada vaga de emprego que se fecha por conta da modernização de processos, outras três oportunidades surgem. O que é necessário é promovermos educação e qualificação para as pessoas, para que possam fazer a transição neste mundo complexo”, alertou ele.

Participaram do XI ENCPCCC: os vice-presidentes do CRCSP de Desenvolvimento Profissional, João Carlos Castilho Garcia; e de Registro, Cibele Pereira Costa; o diretor executivo, Claudio Rafael Bifi; o presidente da Academia Paulista de Contabilidade (APC), Domingos Orestes Chiomento; a vice-presidente de Relações Intersindicais da Federação dos Contabilistas do Estado de São Paulo (Fecontesp), Telma Tibério Gouvêia; o vice-presidente da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo (Apejesp), Irineu De Mula; o presidente do Conselho Curador da FBC, Juarez Domingues Carneiro; o conselheiro do CFC Joaquim Carlos Monteiro de Carvalho; e os presidentes dos Conselhos Regionais de Contabilidade do Distrito Federal (CRCDF), Daniel Chaves Fernandes; da Bahia (CRCBA), Antonio Carlos Ribeiro da Silva; do Pará (CRCPA), Ticiane Lima dos Santos; e do Rio de Janeiro (CRCRJ), Waldir Jorge Ladeira dos Santos.

Confira AQUI como foi a abertura do XI Encontro Nacional de Coordenadores e Professores dos Cursos de Ciências Contábeis.