Doria estende quarentena em São Paulo até 22 de abril

Publicado em 6/4/2020

Governador afirmou que GCMs e a PM poderão agir para dissipar qualquer aglomeração de pessoas

O governador de São Paulo, João Doria, anunciou nesta segunda-feira a prorrogação da quarentena no Estado por 15 dias, agora do dia 8 a 22 de abril. O decreto anterior expira amanhã, e a medida foi estendida.

Segundo ele, prefeitos têm obrigação de seguir a orientação do governador do Estado. “As GCMs [guardas municipais] e a PM [polícia militar] poderão agir para dissipar qualquer aglomeração de pessoas, medida que vai ser publicada no Diário Oficial de amanhã”, afirmou.

Segundo ele, há consenso entre todas as autoridades mundiais para usar o isolamento a fim de salvar vidas, e enalteceu os representantes do governo federal que apoiam a medida. “Defendem o isolamento o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Justiça, Sergio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o Centro de Estudos do Exército, o vice-presidente Hamilton Mourão, e a maioria absoluta de médicos e cientistas. Será que estão todos errados?”, questionou o governador.

Doria disse que São Paulo continuará agindo com base na ciência, priorizando a vida em relação à economia. Afirmou que quem não seguir recomendações seguidas mundialmente deve assumir responsabilidade de segurar os caixões e enterrar vítimas. Ele citou Joseph Stiliglitz, prêmio Nobel de economia, questionando se ele está errado. “Ministros de 56 países estão errados?”, reforçou.

“Será que um único presidente da República no mundo é o certo, que detém o conhecimento e a capacidade para discordar do mundo que quer proteger vidas e salvar pessoas?”, indagou, dirigindo-se ao presidente Jair Bolsonaro, ao iniciar entrevista.

O governador também elogiou empresas que assumiram compromisso de não demitir, como Cosan e Santander, e se comprometeu a destacar, nos próximos encontros com a imprensa, os nomes de companhias médias e grandes que adotem atitude semelhante.

Antes do anúncio, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, havia indicado que haveria prorrogação até o fim do mês.

Comércios lacrados

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, informou que a prefeitura já lacrou 46 estabelecimentos por descumprimento das medidas de isolamento determinadas por decreto.

“A prefeitura não multa, lacra. E na reincidência vai lacrar e cassar o alvará”, disse Covas, reforçando a necessidade de comprometimento da população e explicando que o município não está aplicando multa nesses casos para não haver acusação de que estaria usando a crise para arrecadar dinheiro.

Segundo ele, se as determinações não forem respeitadas, a expectativa é que a necessidade de leitos na cidade salte para 12 mil leitos.

O prefeito fez as declarações durante entrevista coletiva com Doria sobre o enfrentamento ao coronavírus.

Leitos

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, informou que 12.546 leitos de UTI no Estado estão com ocupação de 50%. “Se não houvesse nenhuma medida [mitigatória], estaríamos precisando de mais 3.742 leitos, e o sistema ficaria incapacitado para atender”, afirmou.

Dimas Covas explicou que o Estado trabalha com três cenários: um sem medida alguma, um de mitigação média – adotado atualmente - e um terceiro de mitigação mais intensa.

De acordo com ele, numa projeção para a pandemia com 180 dias de duração, São Paulo teria 277 mil mortos sem medida alguma. “Vamos reduzir [com as medidas já adotadas] em 166 mil mortes”, explicou.

Se nenhuma medida houvesse sido adotada, haveria 5 mil mortos em 13 de abril. Dimas calcula que SP chegará até lá com menos de 1.300.

Em relação aos casos graves, as determinações de isolamento social adotadas devem reduzir os casos com necessidade de leitos de terapia intensiva de 315 mil para 147 mil, ou seja, 168 mil a menos.

“De 1,3 milhão em hospitais, passamos para 670 mil. Então 630 mil pessoas não procurarão hospitais”, afirmou Dimas Covas.

Segundo ele, esses números mostram que a gestão estadual está no caminho certo. “Isso aqui dá uma dimensão da impotência das medidas que estão sendo tomadas. E mais: não só as medidas precisam ser olhadas, mas respeitadas.”

“Nesse momento, precisamos da adesão das pessoas e mostra que a redução [de circulação] está funcionando em níveis superiores a 70%”, concluiu Covas.

Ameaças a Doria

Doria também comentou sobre as ameaças que tem recebido em seu telefone celular por apoiar o isolamento social e disse que é um “tema triste, eu ter de defender a vida dos meus filhos de ameaças de pessoas que querem seguir a orientação do gabinete do ódio”.

“Vou defender meus filhos e esposa, sem retroceder um milímetro em medidas para salvar vidas”, disse o governador.

Fonte: Valor – Leila Souza Lima e André Guilherme Vieira.